quarta-feira, 9 de agosto de 2023

PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NA UNIVERSIDADE

PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS VIRGILIO PEREIRA DOS REIS PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NA UNIVERSIDADE Manaus 2006 RESUMO Este artigo aborda de forma objetiva e concisa os aspectos que caracterizam e os que envolvem a produção do conhecimento considerando a Universidade como a principal responsável por essa atividade. Como produzir e o que é o conhecimento assim como as dificuldade e ideologias que envolvem seu controle tanto sobre o que já se conhece quanto sobre o que ainda se pesquisa, são enfoques importantes que esclarecem que o conhecimento foi e continua sendo uma arma utilizada para subjugar e manter o status quo das classe dominantes da terra. Alertando para a necessidade do desenvolvimento do saber de si que é o que permite a utilização do conhecimento tecnológico de forma ética priorizando o respeito, a igualdade, a paz e, por fim, a felicidade. Vida eterna e feliz é o que todos os homens esperam que os conhecimentos de si, do outro e da realidade lhes agraciem. Essa quase utopia demanda muito trabalho e a Universidade é importante nessa batalha. A Educação como um todo, não apenas a Universidade deve priorizar o conhecimento de si em relação ao conhecimento profissional para que o conhecimento se torne um instrumento na construção de um mundo melhor e não uma arma para a dominação dos que o ignoram. Palavras-chaves: UNIVERSIDADE, CONHECIMENTO, IDEOLOGIA, EDUCAÇÃO. PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NA UNIVERSIDADE Para abordarmos a produção de conhecimento na Universidade é imperioso que primeiramente demos um passar de olhos sobre o que é conhecimento científico e ciência, como se desenvolveram e quais fatores os direcionam. O conhecimento, que é a faculdade que temos para distinguir nossa realidade do todo é a ferramenta que nos permite melhor utilizar os recursos da natureza, estando o homem incluído nesse contexto, para que a vida humana possa ter uma qualidade tal que seja possível assemelhar-se a um estado de viver com felicidade. Viver feliz e para sempre são, no fundo de todas as aparências e devaneios, as verdadeiras razões que fazem com que o trabalho e a busca do conhecimento sejam os objetos de obsessão constante do ser humano. Desde a Grécia antiga, antes mesmo de Sócrates, os filósofos já procuravam esclarecer mais sobre o recorte da realidade que conheciam e procuravam ampliar esse recorte no sentido de buscar a universalidade, que é, por sinal, uma das características da Filosofia. “Todos os homens tendem, por natureza, ao saber” (COUTINHO E CUNHA, 2004, p. 11) dizia Aristóteles em sua Metafísica. No século XVI o racionalismo de René Descartes aliado ao empirismo de John Locke, contando com a anuência de todos os que aderiram às suas linhas de pensamento foram os iniciaram a progênie da Ciência tal qual a conhecemos hoje. Esta, ao desmembrar-se da Filosofia, se preocupava mais com um recorte da realidade onde os parâmetros estabelecidos pudessem ser comprovados; especificamente nas ciências naturais. Posteriormente, com as ciências humanas, as argumentações lógicas e suas capacidades de refutar inverdades, passaram a ser suficientes para se aceitar uma teoria como verdadeira, pelo menos até prova em contrário. A Ciência, assim como a Filosofia, busca a generalização, a universalidade, e por isto seu conhecimento não pode ser taxado como definitivo porque a qualquer instante nova informação anteriormente não percebida é incorporada ao saber e isto altera toda a estrutura já formada do conhecimento em questão. Por estarem o conhecimento e o saber em contínuo desenvolvimento é preciso nos basearmos em seus limites atualmente estabelecidos para regrarmos nossa realidade. O conhecimento até hoje estabelecido, em todas as áreas, é passível de alterações, para isto basta a identificação/constatação de uma nova evidência. Segundo nosso dicionarista Aurélio evidência é a qualidade do que é evidente; certeza manifesta, é o caráter de objeto de conhecimento que não comporta nenhuma dúvida quanto à sua verdade ou falsidade. (AURÉLIO, 2005). As carências humanas, principalmente as psíquicas, são inúmeras e a Ciência e a Filosofia não conseguem meios de suprir todas elas, também possuem valor o conhecimento mítico e o decorrente do senso comum (aparente) que tentam preencher parte dessas lacunas. Restringindo esse enorme campo, este trabalho tem como propósito analisar apenas a produção de conhecimento na Universidade e por isto os demais segmentos não serão abordados. Luchesi afirma que “A ciência tem por objetivo estudar e esclarecer as ocorrências do universo enquanto acontecimentos factuais” (LUCHESI, 1997, P 70). Com objetividade vamos identificar primeiramente o que nos motiva a produzir continuamente novos conhecimentos. O início de tudo está na carência que pode ser física ou psíquica. A fala de Coutinho e Cunha a seguir deixa essa colocação vem clara: Toda atividade de construção de conhecimento, seja ele o conhecimento sobre a natureza, sobre o comportamento do homem ou sobre a sociedade, tem sempre um ponto de partida: necessidade, um interesse, uma expectativa, um desejo, uma curiosidade, um questionamento, uma pressuposição, uma indagação, um preconceito ou uma teoria (COUTINHO e CUNHA, 2004, p.11). Vimos que motivos para buscar o conhecimento não nos faltam, é difícil acreditar que exista no mundo algum sujeito que não possua nenhuma necessidade insatisfeita. Como primeiro passo vamos nos posicionar diante da realidade da qual fazemos parte esclarecendo que o senso comum, ou seja o saber aparente, na maioria das vezes não corresponde a uma verdade resultante de uma análise mais crítica e detalhada, portanto, o conhecimento científico vem de encontro a essa necessidade humana e segue procurando estabelecer a verdade mais próxima possível de entender e descrever a realidade. As ciências possuem três características básicas que são: • Objetivo e finalidade - onde se procura distinguir as características comuns, as leis e os princípios que regulam os eventos; • Função – Que consiste em ampliar e aperfeiçoar a relação do homem com a realidade através do conhecimento, e; • Objeto – que pode ser material, ou seja, tudo o que se puder conhecer e verificar, ou formal, que consiste nos diversos enfoques que cada ciência em particular dá ao mesmo objeto. A grande variedade e complexidade dos fenômenos estudados, onde fenômenos nada mais são do que fatos percebidos pelo homem, levou a subdivisões e especializações em diversas ciências. Essa diversificação começou com Augusto Comte que a dividiu primeiramente em formais, compostas pela lógica e pela matemática e as factuais que subdividiu em dois grupos: as naturais, com a física, a química, a biologia e outras; e as sociais como antropologia cultural, direito, economia, política, psicologia social e sociologia. A diferença fundamental entre os dois grupos está no objeto de estudo, as ciências formais estudam as ideias e as factuais, como o próprio nome diz, os fatos. Diz Lakatos que “As formais, como não se relacionam com os fatos da realidade, não podem se valer dos contatos com essa realidade para convalidar suas fórmulas” (LAKATOS, 1995, p. 25). Assim, como consequência utilizam a lógica, já as factuais, por estudarem os fatos da realidade, são coerentes quando usam a observação e a experimentação para testar suas hipóteses. Podemos destacar que as ciências formais podem demonstrar ou provar, portanto o resultado obtido pode chegar a ser final, já as ciências factuais, que usam a verificação apenas chegam a resultados provisórios. O conhecimento construído segundo esses paradigmas são os chamados “conhecimentos científicos”. Como fato, neste estudo, entendemos quaisquer coisas que existam no espaço e no tempo, assim como suas inter-relações, em virtude das quais uma proposição é verdadeira. Por sua vez fenômeno, que vez por outra é utilizado como sinônimo de fato, consiste no fato segundo a percepção, interpretação que o homem dele fez. Rudio escreve “Os fatos acontecem na realidade, independentemente de haver ou não quem os conheça. Mas, quando existe um observador, a percepção que este tem do fato é que se chama fenômeno.” (2000, p.11) Lakatos (1995, p.89) esclarece que se o fato é a observação empiricamente verificada, a teoria se baseia em fatos e a justaposição deles em um princípio de classificação, se refere a relações entre eles, ou seja, à ordenação significativa desses fatos, consistindo em conceitos, classificações, princípios, leis, regras, teoremas, axiomas etc; teoria e fato são os objetos de estudo dos cientistas e assim o desenvolvimento científico é uma inter-relação constante entre teoria e fato. Sobre a teoria Lakatos (0p. cit. p. 90-93) cita Goode e Hatt que estudaram o papel da teoria em relação aos fatos que estão a seguir esquematizados. A teoria serve: • como orientação para restringir a amplitude dos fatos a serem estudados; • como sistema de conceptualização e de classificação dos fatos; • para resumir sinteticamente o que já se sabe sobre o objeto de estudo através das generalizações empíricas e das inter-relações entre afirmações comprovadas; • para, baseando-se em fatos e relações já conhecidos, prever novos fatos e relações; • para indicar os fatos e as relações que ainda não estão satisfatoriamente explicados e as áreas da realidade que necessitam de pesquisas. Sobre os fatos, por sua vez, continua Lakatos: • um fato novo, uma descoberta, pode provocar o início de uma nova teoria; • os fatos podem acarretar a rejeição ou a reformulação de teorias já existentes; • os fatos redefinem e esclarecem a teoria previamente estabelecida, no sentido de que afirmam em pormenores o que a teoria afirma em termos mais gerais; • os fatos descobertos e analisados pela pesquisa empírica exercem pressão para esclarecer conceitos contidos na teoria; Assim vimos que teoria e fato se integram em função do objetivo primeiro da ciência que é a busca da verdade. A finalidade da atividade científica é a busca da verdade através da comprovação de hipóteses que segundo Lakatos: [...] são pontes entre a observação da realidade e a teoria científica que explica a realidade. O método é o conjunto de atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia permite alcançar o objetivo – conhecimentos válidos e verdadeiros – traçando o caminho a ser seguindo, detectando erros e auxiliando as decisões do cientista. ( op. Cit., p. 40) Por isto a Ciência vem desenvolvendo e estabelecendo métodos que possibilitem que os resultados alcançados cheguem mais confiavelmente à uma verdade, mesmo que provisória. O método reduz, procura evitar erros de argumentação, erros decorrentes da idiossincrasia. A Ciência está se subdividindo tanto que as especializações estão chegando a extremos tão reduzidamente limitados que estão distanciando os cientistas de uma visão de totalidade das necessidades do ser humano. Edgar Morin (1999, p.10) argumenta que devemos realmente subdividir para conhecer nos mínimos detalhes um determinado fato, mas não devemos parar por aí, é preciso que do mínimo partamos para um processo de complexificação que nos leve novamente a uma visão holística e total para, então novamente voltarmos a simplificar. Segundo Morin, este processo de complexificação e simplificação leva ao aprimoramento do saber e da competência. Morin escreveu: A pré-história da ciência não está morta no fim do século 20. Mas, em toda parte, cada vez mais tende-se a ultrapassar, abrir, englobar as disciplinas, e elas aparecerão, pela ótica da ciência futura como um momento de sua pré-história. Isso não significa que as distinções, as especializações, as competências devam dissolver-se. Isso significa que um princípio federador e organizador deve se impor a eles. ( op.cit., . p.10) Essa ideia de uma só ciência é denominada de consiliência. Agora que os pressupostos para a construção do conhecimento científico foram colocados resta saber se a Universidade, que por excelência é o local onde isto pode e deve se dar de maneira mais eficiente, vem cumprindo o seu papel nesse aspecto. O que se pesquisa? Quem propõe as necessidades e os métodos de análises do experimentos ou argumentos? Os pesquisadores são livres para criarem, se abstraírem e se enveredarem por caminhos ainda obscuros e sem ainda alguma perspectiva de alcançarem resultados que signifiquem retorno financeiro? Não nos parece que assim seja. Tudo segue uma ideologia, que é, como não poderia deixar de ser, a dominante. A busca da verdade é dirigida de forma que não se constate, “descubra” algo que balance as estruturas de poder dos que mantém as rédeas do povo em suas mãos. Paulo Freire (1882, p. 105) critica a pretensa neutralidade da educação e da igreja apontando essa pseudo ideologia como uma arma da classe dominante. Ele alerta para o fato de que elas não são neutras e, portanto, devem atuar para esclarecer o povo acrítico que ele chama de “inocentes”. Como a construção do conhecimento está intimamente relacionada com a educação, a qual é manipulada por vários segmentos sociais como o Estado, a Igreja e o mercado de trabalho a níveis regionais, nacionais e internacionais, não é preciso muito esforço para perceber que ela existe para atender aos interesses desses vetores dominantes. Enquanto a disputa pela tecnologia de ponta segue a nível de segredo de estado, o conhecimento que resulta em menor impacto econômico vem sendo pesquisado nas Universidades brasileiras. O pesquisador não possui liberdade de escolha para definir o objeto de sua pesquisa, e, mesmo com essa deficiência que gera desestímulo, ainda não possui condições para dedicar tempo exclusivo para esse empreendimento porque é professor e precisa cumprir um determinado número de horas aulas, além de ainda estar envolvido com as atividades administrativas da academia. No final, o interesse reduzido, a similitude de centenas de pesquisas levadas a termo ano após ano, a falta real de uma aplicação imediata para os frutos da pesquisa e a falta de condições e recursos para levar a cabo um trabalho de qualidade acarreta simplesmente o enchimento das estantes das prateleiras das bibliotecas com mais e mais monografias e relatórios, que na maioria das vezes não são sequer consultados pelos novos pesquisadores. Observe que tudo isto se refere a professores com doutorado, mestrado ou graduado. Para os estudantes a nível de graduação a realidade é mais cruel ainda. As empresas de tecnologia, multinacionais, usam os recursos intelectuais dos alunos e do corpo docente e os seus tempos para o desenvolvimento de partes de um sistema, para aumentar a qualidade de determinado produto etc. Assim as verbas que elas injetam nessas pesquisas universitárias, irrisórias se comparadas com as destinadas à de tecnologia de ponta, as posicionam na condição de clientes especialíssimos, tão considerados que a Universidade passa a se adaptar aos seus interesses. Como quem nada quer, indiretamente essas empresas vão determinando até mesmo o tipo de currículo que a academia deve impor ao discente de determinada especialidade profissional. Até aí, seria injusto criticar essas empresas, mas o que aqui não se faz é muito mais amplo do que o que se faz. As grandes somas são destinadas às pesquisas em seus laboratórios particulares ou em institutos/universidades de seu país de origem. Comprova-se que nossa ação de produzir conhecimentos é de somenos, é apenas a parte braçal, enquanto que o comando, as ideias, o controle e o domínio do que pode gerar recursos financeiros encontram-se centralizados nos países considerados de primeiro mundo. Com as multinacionais manipulando as Universidades, que paradoxalmente, devido a sua escassez e avidez por recursos, disputam entre si para serem manipuladas, com o sistema educacional vigente que não possibilita a pesquisa não imediatista que é a que normalmente desemboca em produtos ou serviços que se tornam grandes mananciais financeiros; com as restrições financeiras por parte do Estado que não prioriza a tecnologia de ponta nas universidades e ainda por cima define ideologicamente os campos de pesquisas que devem receber algum apoio financeiro não há muito o que se esperar em termos de desenvolvimento deste Brasil que o habilite a entrar para o rol dos países que se enriquecem com o controle e manipulação do conhecimento que gera a tecnologia. Justiça seja feita ao atual governo que acreditou no potencial de análise e pesquisa dos nossos centros de pesquisas e universidades quando deu a eles a tarefa de analisar e decidir sobre qual modelo de Televisão Digital seria mais adequado para suprir as necessidades brasileiras. Eles deram conta da missão. É tudo uma questão político-ideológica, havendo convergência de interesses tudo pode ser feito em termos de domínio das tecnologias existentes e criação de novas, potencial teórico e vontade não é o que falta, o que falta na verdade é uma ideologia que mire o desenvolvimento dentro de uma perspectiva de independência do acesso aos bens e serviços que necessitamos. Se precisamos, se utilizamos, então deveríamos conhecer e saber construir, saber fazer. Precisamos fabricar nosso próprio remédio e não ficarmos na dependência de um fabricante externo. Será que poderemos sempre contar com ele? O futuro é incerto e a melhor maneira de garantirmos nossa soberania é nos libertando das amarras que nos tolhem os movimentos e nos guiam como animais presos em seus cabrestos e puxados por suas rédeas na direção de uma espiga de milho que balança à sua frente, o que precisamos perceber é que jamais alcançaremos essa espiga e que cada vez mais nosso caminhar nos leva para longe do milharal. Apesar da manipulação das empresas, não são elas, segundo Bourdieu e Boltanski o direcionador principal do sistema de ensino que depende “menos diretamente do sistema de produção do que das exigências da reprodução do grupo familiar. (1998, p. 130). Isto não causa estranheza porque, afinal de contas os meios de produção são controlados por segmentos privilegiados da sociedade que procuram se perenizar nessa classificação. Paulo Freire (1989), aponta os cinco passos para a produção do conhecimento como sendo: • Conheça os seus alunos. “Conhecer seus alunos” é saber sobre eles para além de seus nomes, • Não imponha conhecimentos, • Exija argumentos, • Seja democrático e • Seja transdisciplinar. Esses passos também podem e deveriam ser utilizados na universidade porque são atividades sequenciais que levam a produção de um novo saber e os alunos precisam conhecer para poderem construir novos conhecimentos O conhecimento é um instrumento de desenvolvimento que deve ser empregado para que a vida humana se torne mais longa e feliz. Como a vida possui os aspectos físicos e psíquicos não podemos deixar de considerar este segundo segmento como sendo tão importante quanto o primeiro. Para ser feliz é necessário que, antes de qualquer outra coisa haja uma justiça que considere a todos como seres humanos iguais em direitos e deveres. A justiça é o único baluarte onde a paz pode se desenvolver. Como a justiça e a paz que não acontecem sem que haja respeito entre todos os seres vivos podemos escalonar a evolução social partindo do respeito que leva à justiça que resulta em paz e pode, a partir daí, até chegar à felicidade. O conhecimento deve ser um instrumento para que alcancemos esse objetivo. Não podemos deixar de constatar que tudo o que existe e é percebido e manipulado pelo homem, por si só nada faz. É o homem quem faz, seja para seu bem ou não, seja para ao bem do próximo ou não, seja para o mal do próximo ou não. Como Platão, na Apologia de Sócrates – Críton, narra que Sócrates diz que o conhecimento pode ser sinônimo de virtude, porque aquele que preza pela verdade, ou seja pelo conhecimento, teme fazer o mal, não teme mais nada. Afirma ele: “[...] sabes que os maus sempre fazem sempre algum mal aos que vivem mais perto deles, e os bons algum bem, enquanto eu sou tão ignorante que nem sequer sei que, se tornar mau um dos que comigo convivem, me arrisco a receber dele algum mal [...]” (Platão 25 – d). Ou seja, quem conhece sabe que a produção das desigualdades, leva inexoravelmente a reações pouco favoráveis, para não dizer totalmente desfavoráveis. Por isso a analogia entre conhecimento e virtude. Como consequência temos que o conhecimento não pode ser desvinculado da ética, caso contrário, ao invés de um instrumento para a construção do mundo que seria bom para todos, estaremos construindo um paraíso para poucos e um inferno para bilhões. O conhecimento humano, como ferramenta que permite transformar a realidade, pode ser usado para subjugar o próprio homem. Isto é o que aconteceu, acontece e ainda irá acontecer por um bom tempo. A cada nova tecnologia que propiciava a construção de armas de ataque e de defesa mais eficazes ia acontecendo trocas das sociedades dominadoras, dominados se tornavam dominadores como no caso da Grécia que dominava Roma e depois foi subjugada. Os Hicsos, menos numerosos dominaram o poderoso Império Egípcio porque sabiam fabricar armas de ferro e conheciam e domaram os cavalos, ambos desconhecidos dos egípcios. E assim caminha a humanidade, parece plágio, mas é uma constatação de que o homem pouco mudou em milênios. Hoje os países que possuem tecnologia e fabricaram bombas nucleares se impõem e se auto intitulam responsáveis pelo planeta, a ONU é o seu clube. São eles que decidem se algum país possui “ética” e um comportamento dócil às suas técnicas de dominação e controle de todos os meios de produção e matéria prima para poderem ou não pesquisarem essa arma. Em nome da paz e da segurança, ameaçam de todas as formas possíveis para que os que não conhecem continuem sem conhecer, controlam o que eles podem ou não pesquisar, desenvolver, quando as ameaças não dão resultados a invasão é inevitável. Vejam os casos do Afeganistão, Iraque, apoio a revoluções e golpes de estado em quase todos os países das Américas Central e do Sul, boicotes e restrições comerciais diversos, a Criação do Estado de Israel que permitiu a colocação de um braço armado em uma região, o Oriente Médio, que era excessivamente relutante aos interesses dos dominadores. O conhecimento é uma arma que quando não está sendo utilizado para oprimir está guardado a sete chaves e em contínuo processo de aperfeiçoamento, mas contudo, graças a ele a longevidade vem aumentando gradativamente e a qualidade de vida em geral também vem melhorando continuamente, se bem que muito para poucos e um pouquinho para muitos. O conhecimento sobre como ser, sobre si, está defasado em relação ao conhecimento tecnológico, daí as discrepâncias e os fatos beligerantes. Com o desenvolvimento do conhecimento de si mesmo o homem compreenderá que o mal por si só se destrói, veja os exemplos dos impérios sanguinolentos como Roma que se auto destruiu, e o respeito e a igualdade que levam à justiça e à paz e quiçá à felicidade devem ser os estigmas caracterizadores da raça humana. A Universidade deveria se preocupar mais com a formação do cidadão crítico-reflexivo do que com o profissional, embora este aspecto também seja importante, mas não se pode colocar o conhecimento, que pode ser uma arma, nas mãos de sujeitos que não são formados para viver em uma sociedade viva, que funcione como um organismo harmônico que busca o bem estar de todos e não o bem estar individualizado e egoísta. REFERÊNCIAS AURÉLIO, Buarque de Holanda Ferreira. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Dicionário eletrônico. 2005. Disponível em < http://www.aureliopositivo.com.br/aurelio/default.asp>. Acesso em 03 de setembro de 2006, 10:45 hr. COUTINHO, Maria Tereza da Cunha et CUNHA, Suzana Ezequiel da. Os caminhos da pesquisa em ciências humanas. Belo Horizonte: PUCMinas, 2004. MORIN, Edgar. A miséria do mundo. 1999 FREIRE, Paulo. Ação cultural para a liberdade e outros escritos. 8 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982. FREIRE, Paulo. Educação como pratica de liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989. LAKATOS, Eva Maria; Marina de Andrade Marconi. Fundamentos de metodologia científica. São Paulo: Atlas, 1995. LUCKESI, Cipriano Carlos. [et al]. Fazer Universidade: Uma proposta metodológica. 9 ed. São Paulo: Cortês, 1997. RUDIO, Franz Victor, Introdução ao projeto de pesquisa científica. 27. ed. São Paulo: Vozes, 2000. BOURDIEU, Pierre; BOLTANSKI, Luc. O diploma e o cargo: relação entre o sistema de produção e o sistema de reprodução. In: BOURDIEU, Pierre. Escritos de Educação. Petrópolis:Voxes,1998. PLATÃO. A Apologia de Sócrates – Críton. Brasília: UnB, 2000. Postado por ESCRAVOS DA VIDA às 14:26